Um francano tem seu nome inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. Veja quem é ele

10 - 01 - 2024- Franca

Franca Franca

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que inscreve o nome do francano Abdias do Nascimento no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria (PL 2526/22, do Senado). A lei já foi sancionada pelo presidente Lula (Veja aqui).

O livro fica depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.

Quando se sua tramitação no Congresso Nacional, a proposta foi aprovada em caráter conclusivo e pode seguir direto para a sanção sem passar pelo Plenário.

A CCJ, aprovou o parecer da relatora, deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), favorável ao projeto.

Luta antirracista

Poeta, ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos das populações negras, o francano Abdias foi um grande personagem na luta antirracista.

Também foi senador. Como suplente do antropólogo Darcy Ribeiro no Senado, assumiu a cadeira entre 1991 e 1992 e de 1997 a 1999 e se tornou referência na luta pela igualdade racial também naquela Casa.

Destacou-se como cientista social e como autor de importantes trabalhos que tratam da temática afro-brasileira. Como artista plástico, ele realizou diversas exposições em museus, universidades e centros culturais brasileiros.

De acordo com a Agência Câmara de Notícias, ele faleceu em 2011, aos 97 anos, vítima de uma pneumonia que se complicou e agravou problemas cardíacos.

Abdias do Nascimento: conheça um dos maiores ativistas negros do Brasil

Economista por formação, ele foi também artista, professor universitário e político — e reconhecido pela Unesco por sua luta contra a discriminação racial.

Nascido em Franca, no interior de São Paulo, no dia 14 de março de 1914, Abdias do Nascimento foi uma das figuras mais proeminentes do movimento negro.

Ao longo da vida, ajudou a fundar o Teatro Experimental do Negro (TEN), o Museu de Arte Negra (MAN) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), todos no Rio de Janeiro.

Artista, professor universitário e político, Nascimento viveu até os 94 anos e morreu no dia 24 de maio de 2011, vítima de complicações por diabetes. Relembre sua trajetória:

Infância

Neto de uma ex-escrava, Abdias cresceu em uma família pobre. Começou a trabalhar aos 9 anos de idade, entregando leite e carne nas casas dos moradores mais ricos.

Aos 11, ingressou na Escola de Comércio do Ateneu Francano com uma bolsa de estudos batalhada pela mãe junto ao prefeito da cidade. Na instituição, se formou em contabilidade em 1928, aos 15 anos. No ano seguinte, em busca de melhores condições financeiras, alistou-se no exército e foi morar em São Paulo.

Militância e formação intelectual

No exército, combateu na revolução constitucionalista, entre 1930 e 1932. Ao todo, passou seis anos como militar, período em que, paralelamente, ingressou em dois movimentos: a Frente Negra Brasileira (FNB) e a Aliança Integralista Brasileira (AIB).

Trabalhou como repórter no jornal integralista e teve um contato aprofundado com a cultura brasileira, a arte, a literatura e a economia. Deixou a AIB por discordar de uma facção racista dentro da organização.

Embora anos depois tenha sido criticado por fazer parte de um movimento de viés fascista, Abdias nunca renegou esse período, que considerou importante para sua formação intelectual.

Em 1936, Nascimento foi expulso do exército acusado de indisciplina por causa de desentendimentos com a polícia. Diante de um acirramento da intolerância aos movimentos negros em São Paulo, decidiu se mudar para o estado do Rio de Janeiro, instalando-se em Duque de Caxias.

Foi no município fluminense que ele começou a ter um contato mais aprofundado com as religiões de matriz africana.

Em 1937, um ano depois de iniciar os estudos em economia na Escola de Comércio Álvares Penteado, transferiu-se para a Universidade do Rio de Janeiro (hoje, a UFRJ), onde cursou bacharelado em Ciências Econômicas.

Também passou a militar em movimentos contra o Estado Novo e o imperialismo, o que lhe rendeu uma temporada de quatro meses na prisão.

Formação artística

Foi no Rio de Janeiro que Abdias do Nascimento teve sua formação artística. Vivendo o rico universo cultural carioca, em 1939 ele conheceu os poetas argentinos Efraín Tomás Bó, Juan Raúl Young e Godofredo Tito Iommi, e com eles fundou a Santa Hermandad de la Orquídea.

Nos dois anos seguintes, o grupo viajou pelo Brasil e pela América Latina apresentando recitais, participando de saraus e acompanhando peças de teatro.

Em Lima, capital do Peru, o brasileiro assistiu a uma encenação de O Imperador Jones, que trata da questão racial americana. A peça, porém, foi encenada por um grupo argentino inteiramente composto por atores brancos, e aqueles que interpretavam personagens negros eram pintados. Isso o fez refletir sobre a ausência de negros no teatro brasileiro.

De volta ao Brasil

Enquanto rodava o continente com a Santa Hermandad, Nascimento respondia judicialmente pela confusão com os policiais de 1936. Na volta para o Brasil, em 1943, foi condenado e passou a cumprir sentença em São Paulo, no presídio do Carandiru. Na casa de detenção, criou o Teatro do Sentenciado, grupo composto somente por prisioneiros negros. Foi solto em 1944 e imediatamente voltou para o Rio de Janeiro.

A partir de sua experiência na cadeia e das reflexões surgidas no episódio do Peru, fundou o Teatro Experimental Negro. E a primeira peça do grupo não poderia deixar de ser O Imperador Jones, só que, dessa vez, com um elenco inteiramente negro.

Encenada em apresentação única no dia 18 de maio de 1945, foi um sucesso de público, embora tenha recebido críticas de cunho racista.

Militância ativa e exílio

Nas décadas de 1950 e 1960, Nascimento continuou com sua militância ativa, participando de congressos, encontros e protestos. Fundou um braço político do TEN, criou um jornal e organizou o primeiro Congresso Negro Brasileiro.

Mas, com o Ato Institucional Número Cinco (AI-5), instituído pelos militares em 1968 proibindo, entre outras coisas, a militância negra, Abdias decidiu se exilar nos Estados Unidos.

Lá, teve contato com os movimentos locais, como os Panteras Negras, deu aula em universidades e militou ativamente no pan-africanismo, movimento que propunha a união entre as nações africanas e as culturas decorrentes da diáspora deste continente. No exílio, também se dedicou com afinco à sua carreira de artista plástico.

Mais uma vez de volta ao Brasil

O exílio terminou em 1981, mesmo ano em que criou o Ipeafro. Com a reabertura política no ano seguinte, ele decidiu se candidatar a deputado federal no Rio de Janeiro pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de Leonel Brizola.

Foi eleito com a bandeira da luta contra o racismo. A partir daí, seguiu uma carreira política marcada pelo ativismo antirracista, com duas passagens pelo Senado, em 1991 e 1996.

Segundo a revista Galileu (leia aqui), Abdias recebeu  importantes reconhecimentos pela sua trajetória, como o Prêmio Toussaint Louverture pelos Extraordinários Serviços Prestados à Luta contra a Discriminação Racial, na sede da Unesco em Paris, em 2004.


Fonte - Jornal da Franca
Fonte de imagem - Jornal da Franca